Não venho sincronizado com a sorte. Ao longo do caminho vou perdendo alguns minutos que julgava merecer. Doem-me os joelhos, correr é complicado e o tempo vai-me fugindo. Ora foge numa carruagem ora se dissolve num apito. Os túneis tornam-se buracos agressivos.
Na estação de metro uma foto mostra o Marquês com merda branca a escorrer-lhe da testa. Sei que a estátua está lá fora, talvez sobre o lugar onde me encontro. Passo-lhe por baixo com alguma frequência misturado na barulheira do comboio. Quando vejo a estátua "ao vivo" não me lembro de reparar na merda que tem na testa. Talvez a chuva a tenha lavado e o Marquês esteja, agora, limpo. Ele e o leão. Talvez estejam limpos.
Mas a foto está sempre ali. O Marquês cagado, na estação a que empresta o nome.
Imagino um tempo distante em que a cidade seja então uma ruína; a estátua desapareceu mas a foto no túnel permanece. Misteriosa aos olhos das pessoas do futuro que não relacionam a imagem com nada que conheçam ou possam vir a conhecer. O Marquês cagado, para todo o sempre.
Sem comentários:
Enviar um comentário