As histórias haviam sido todas narradas. Não restava nenhuma que não tivesse já sido inventada. Os romancistas, os cronistas, os dramaturgos, os poetas de um modo geral, mesmo os pintores, os coreógrafos e os simples bêbados que habitualmente conversavam encostados ao balcão da tasca, deram por si a reciclar constantemente histórias que outras mentes haviam imaginado e outras bocas tinham já mil vezes contado.
Os grandes mestres não se atrapalharam, continuando a brilhar e a ser admirados, convidados para palestras, vernissages, jantares galantes e viagens maravilhosas que cruzavam este mundo e o outro. O facto de recriarem constantemente narrativas estafadas não os acanhava nem incomodava os basbaques do costume (que se babam como vacas pasmadas perante o esplendor alheio).
E assim foi; logo houve quem sistematizasse o fim da criatividade inventando tabelas e fórmulas explicativas capazes de orientar o mais canhestro dos putativos artistas em direcção à obra-prima, a sua criação mais grandiosa. Com o passar do tempo todos nos tornámos artistas e todos os artistas passaram a ser gente banal.
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