Quando vejo imagens de crianças a cirandar por entre escombros de cidades bombardeadas ponho-me a tentar imaginar: o que vai ser daquele puto? Que adulto está a germinar naquele puto? Raras vezes imagino o que quer que seja.
Nós, que vivemos com imensas dificuldades e somos vítimas de tremendas injustiças (a inflacção é terrível e o poder judicial tem dois pesos e duas medidas), temos, no entanto, a estranha capacidade de emitir opinião sobre o mundo que envolve aquela criança, mundo que conhecemos das fotografias, das peças dos telejornais, dos textos nos jornais e nas revistas. Alguns de nós tornam-se mesmo peritos na questão sem nunca lá terem metido os pés, nem sequer tendo conhecido um palestiniano, quando muito viram um ou dois israelitas na vida. Alguns leram os livros de Yuval Noah Arari e viram aquele filme do Spielberg. Há mesmo quem negue o Holocausto mas consiga metralhar o Hamas do alto do seu sofá.
Aquele puto, a mirar as pedras que cobrem o chão e que ainda ontem eram as paredes da sua casa, não vai ter escola, talvez nem tenha família, possivelmente não vai ter nada. Eventualmente terá recebido toda a sua herança no dia em caiu a bomba que lhe levou o mundo em que vivia: herdou todo o capital de ódio acumulado pelos seus antepassados contra os homens responsáveis por aquela destruição.
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