Viajava na carruagem de metro razoavelmente vazia apesar da hora matinal. E pensou:
"Não será o desespero a extinguir a nossa espécie. O desejo prevalece mesmo, mesmo até ao último suspiro. Enquanto houver desejo a luta da vida por si própria nunca irá esmorecer. Não há desespero que apague o desejo."
As portas abriram-se sobre a plataforma da estação onde desejava sair. E saiu:
"Ao contrário do que nos querem fazer crer, a simples existência basta bem para que sejamos humanos."
Já sentado perante o café e o pão com queijo (sem manteiga) continuou a dialogar com os seus fantasmas:
"A humanidade não se revela na angustiosa tarefa de inventar novas formas e justificações plausíveis para a velha compulsão consumista que nos trouxe até aqui, à beirinha do abismo. A humanidade é algo que repousa em cada um de nós esperando serenamente a sua oportunidade para ser ouvida."
Já na rua, meio devorado pela cidade, despediu-se de si próprio. Era necessário vencer mais aquele dia.
Sem comentários:
Enviar um comentário