Os dias passam e o mundo cada vez mais parece menos: menos habitável para a generalidade das espécies, menos respirável, menos amável, definitivamente menos explorável. Cada dia para a frente dá a sensação de ser também um dia para trás, como se duas paredes paralelas de comprimento infinito se fossem aproximando, inexoravelmente, e eu (e tu, nós, todos) percorresse o corredor formado pelos muros à procura de qualquer coisa semelhante a esperança. Uma brecha, um desabamento, cimento húmido; mas - nada!
O calor aperta também. Falou-se do degelo constante mas a notícia não durou mais que um dia. A guerra, a comissão de inquérito, as transferências de jogadores de futebol, são tantos os assuntos interessantes que o Apocalipse perde espaço noticioso. Já se sabe que todos havemos de morrer.
Não consigo evitar a sensação de que assistirei ao fim de uma civilização. Serei um velho a observar o desabar do orgulho desmedido de uma certa parte da Humanidade (da qual fiz - ainda faço? - parte), talvez isso me proporcione algum distanciamento, alguma tirada filosófica para os anais que, azarucho, estarão prestes a encerrar as entradas de citações por caducidade absoluta do tempo da civilização.
Sinto uma certa frustração por nem a vaidade sobreviver. Morrendo as pessoas do futuro morrerão também todas as pessoas do presente e do passado e todos os deuses (sim, com Jeová e Maomé de braço dado e à cabeça) por falta de memória que mantenha vivos todos os fantasmas.
2 comentários:
Pelo andar da carruagem eu creio que teremos o privilégio de morrer no fim do mundo.
É isso. Pessoalmente preferia morrer um pouco antes.
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