sexta-feira, março 10, 2023

TINA

     Não há volta a dar-lhe, dizem que vivemos sob o patrocínio da TINA (a tal que diz "there's no alternative) mas, está na cara, é uma conversa da treta. Alternativa há sempre, o problema consiste em percepcioná-la e, mais complicado ainda, conseguir criar sinergias capazes de pôr a coisa em marcha. 

    O nosso modo de vida fomenta a fragmentação do grupo. Metemo-nos em casa a olhar para rectângulos com imagens (televisores, computadores, telemóveis) acreditando que através dessas janelas virtuais comunicamos com o Mundo. Talvez até seja verdade, talvez haja comunicação (olha para nós, aqui, a "conversarmos"), mas acaba por ser uma comunicação estéril em termos sociais. A haver algum benefício no processo será tendencialmente individual.

    E é esse o nosso fado: sermos indivíduos com barrigas salientes e um umbigo na ponta, o qual contemplamos embevecidos, convencidos de que o Mundo não nos merece ou, nos casos mais desesperados, que não merecemos o Mundo.

    Quando saímos à rua em grandes grupos e manifestamos desacordo com algum aspecto menos atraente da TINA ficamos com a sensação de que fizemos algo socialmente radical mas, no fim das contas, a TINA acaba sempre a rir-se. A puta!

carta enviada ao Director do jornal Público

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