sábado, março 25, 2023

Ironia macabra

     Li no jornal uma espécie de notícia que informa que a "ONU denuncia execuções sumárias de prisioneiros russos e ucranianos". O texto desenrola-se citando situações um tanto abstractas das quais ressaltam números aproximados. De prisioneiros mortos ou torturados, de civis trucidados, queimados, explodidos e, a rematar, refere 133 casos de violência sexual. É um texto que não vem assinado (por lapso?). Seco, despersonalizado, agreste, o texto lê-se penosamente. Talvez seja um bom retrato do que é a guerra para quem a acompanha ao minuto via CNN de rabinho no sofá, um espaço de violência virtual habitado por fantasmas exaustos e andrajosos.

    Houve um pequeno parágrafo que me chamou a atenção: "O relatório constata que, embora o abuso de prisioneiros de guerra ocorresse em ambos os lados, os prisioneiros russos "foram mais bem tratados", sendo que a violência era mais comum contra ucranianos."

    Sublinho o "foram mais bem tratados", entre aspas, uma manifestação de desejo ligeiramente ardente de que os criminosos que apoiamos sejam um pouco mais humanos que os outros criminosos, que supostamente odiamos ou, pelo menos, desprezamos. Pergunto-me: odiamos e desprezamos esses tipos por serem criminosos?

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