Apercebeu-se de que nunca mais haveria aquela pessoa do outro lado da chamada telefónica. Tudo porque passavam as 17 horas no mostradorzeco do telemóvel. Sentiu um aperto na garganta que desceu ao peito, um desconforto, uma ausência. As lágrimas voltaram. Nos últimos dias as lágrimas iam e vinham como se fossem um mar. Foi então que constatou o facto de não ter visto o corpo. Um calor inesperado ruborizou-lhe o rosto. Poupara-se ao cadáver?
Reflectiu sobre a questão. Quem poupara ele ou o que poupara? No deve e haver dos afectos nunca houvera qualquer tipo de poupança. Concluiu que não poupara nada, pelo menos conscientemente, não houvera poupança. Apenas entrega, amor e, agora, instalava-se a saudade. Todos os dias, quando as 17 horas passearem em direcção ao fim da tarde. Para sempre.
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