Tinha o olhar de um pássaro e a brusquidão com que movia cabeça acentuava a sensação de ter parentesco com os pardais ou os papagaios. Pegava num livro e, mal o abria, desfolhava-o rapidamente antes de o largar com a urgência provocada pela necessidade de pegar naqueloutro. A cabeça a saltitar-lhe entre os ombros, como que segura por elásticos.
Tentei alhear-me da personagem mas não fui capaz de o fazer. Penso que estive sempre à espera que, largado um livro, levantasse vôo e lá fosse, à sua vida, que imaginei tão diferente da minha. Mas não. Entretanto chegou alguém, a sua companhia, e de imediato tudo mudou. O estranho pássaro transformou-se num felino aveludado.
Tratava-se, afinal, de um camaleão.
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