terça-feira, fevereiro 02, 2021

Opinar

Ter opinião não me parece coisa fácil. Para construir uma opinião precisamos de muito mais que mero instinto ou impulso incontrolado, precisamos de informação. E tendo acesso a informação precisamos de a validar, comparar dados, reflectir... ter opinião não é coisa fácil.

Mais difícil ainda é quando, depois de uma trabalheira dos diabos para construirmos a nossa opinião, nos vemos confrontados com a possibilidade de estarmos enganados. É lixado. Aceitar o erro pessoal, deitar para o lixo o resultado do trabalho desenvolvido na construção da nossa opinião... é coisa com alto grau de exigência ética e estética. Mas, como diz o povo, "o que tem de ser tem muita força".

Reconhecer e aceitar o erro não deveria ser assim tão complicado por ser coisa tão natural como água da chuva (mesmo quando dizemos que, pronto, estávamos enganados e assumimos o engano com ar de quem não dá grande importância à situação, é complicado). Será o nosso ímpeto competitivo, a nossa ânsia de sermos melhores que os outros o que nos enrola a língua e faz arder a testa quando chega a hora de darmos o braço a torcer?

Voltando um pouco atrás: ter opinião não é fácil e mais difícil será quando nos pagam para a emitirmos publicamente a espaços regulares. Ser comentador, escrever artigos de opinião em jornais e revistas, perorar sobre tudo e mais alguma coisa em debates televisivos, dia após dia, a um ritmo de atleta olímpico, parecem-me actividades ao nível da de um acrobata voador que actua sem rede. A diferença é que o acrobata, falhando o salto, se esborracha no chão; já o comentador, enfiado o pé na argola, faz de conta que não se passou nada e avança decidido, direitinho à próxima opinião.

Há no entanto milhares de pessoas com opinião fácil e imediata. Os opinadores infalíveis parecem incapazes de imaginar que estão errados mesmo quando sustentam que a Terra é plana ou que o Inferno é um lugar verdadeiro. Para estes não há ética nem estética nem nada que os faça duvidar daquilo que lhes atafulha a mente como massa a fermentar. E são tantos!

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