Há dias assim. Acordo com a sensação de que estou a viver uma ficção. O meu dia será o episódio seguinte de uma história inventada, não por alguém, por alguma coisa que desconheço, uma entidade incompreensível que pressinto mas que não consigo abarcar com os meus sentidos limitados.
Ao rememorar os acontecimentos do dia anterior encontro estranhas conexões, coincidências aparentemente impossíveis, como se tudo se encaixasse de forma demasiado premeditada. Sinto isto mas não sou capaz de concluir inequivocamente as razões que levantam as minhas suspeitas. É tudo demasiado vago mas, por vezes, quase palpável.
Encaro o resto do dia com morna resignação: irei vivê-lo representando este papel para o qual não estou completamente preparado por não ter consciência absoluta do enredo, sabendo de antemão que irei enganar-me várias vezes nas falas, errar algumas marcações, desiludindo o argumentista e o encenador. Lamento, sou fraco actor.
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