quarta-feira, julho 17, 2013

Café (com pouco açúcar)

Quantas vezes nos deixamos amarrar a personagens que não somos nós? Vivemos dentro de outra pessoa e nem sempre nos apercebemos disso. A quantos de nós acontece algo assim o tempo todo de uma vida? Uma vida inteira a viver acontecimentos que não correspondem ao que nos vai na alma, a fazer coisas que são coisas de outro corpo, coisas de outra personagem, uma vida inteira a representar no filme errado.

Há quem sofra por isso, há quem nem dê pelo engano. Há quem seja feliz assim. Há quem se aperceba da troca de papéis mas não diga nada, não faça nada, continuando a representar aquele papel. Do mal o menos.

Trocar de personagem a meio da vida requer coragem e lucidez. Rasgar a alma e esperar que outra nova nos cresça é doloroso e não tem resultados garantidos. As personagens que representamos não trazem instruções nem têm garantia ou prazo de validade.

A vida é um risco. O problema é que só vivemos uma.
Só vivemos uma vida de cada vez.

4 comentários:

luísM disse...

É obra, mas acontece bastante. Até à altura em que decidimos mudar de fato. Ou não, deixa-se ficar a cinta apertada fazendo por esquecê-la, até já nem se dar mais por isso.
Mas não é obrigatório, pode sempre aliviar-se o espartilho, basta arranjar coragem, a coragem de se mandar f..... uns quantos normativos e seus fautores e agentes.

Do mal o menos, dizes tu? Não sei não, caramba, essa alienação não sei se é vida! Não tem nada de intenso...

Esse é um dos maiores dramas do indivíduo, pelo que me foi dado ver nestes curtos/longos anos de vida!


Silvares disse...

A intensidade é uma questão de conjuntura. Intensidade constante pode cozer os miolos ao mais pintado. A preguiça é um bem que não deveremos desprezar.

luísM disse...

Não há intensidade constante, senão o termo não existia, porque não havia conceito e sentido para ele. O que eu disse foi não haver intensidade, querendo dizer que é sempre (pode ser sempre) uma coisa morna e desenxabida, previsível e sem momentos, como direi, de grandeza, uma espécie de fast food. Sabes bem que há gente que vive uma vida assim, sempre de olhos postos no big brother do dia a dia, nunca olhando para o lado, nunca se espantando com o que a vida traz, nunca tendo um rasgo de inquietação... Uma espécie de reformados da vida...

A preguiça é um dos grandes acontecimentos da vida, estou de acordo, é um estado de espírito, é difícil quantificar, por isso não tem preço, é um exercício democrático de poder sobre o tempo, o espaço e as relações. É um compasso de espera que pode rebentar com muita coisa e, como a ironia, relativisa a importância das coisas e das pessoas. A prática da preguiça é uma "arte", é preciso saber desenvolvê-la, senão torna-se alienação lesmosa e com ranho. As duas coisas não se contradizem, complementam-se, na minha opinião.

E aqui te deixo, deu-me a preguiça de teclar, principalmente porque o discurso fica truncado, é uma chatice!

Luma Rosa disse...

Silvares, mon ami...
O que vive dentro dessa carcaça que Deus nos deu, vos parece uma prisão? Eu sonho, eu danço e muitas vezes me esqueço de quem sou.
Vivemos personagens impostos desde quando nascemos. Você não é por muito tempo, pois primeiro é o filho de fulano. O que te chamam tem um grande peso. Você segue regras e quando retroage pode ser confundido com um louco.
Quando chegamos a nossa independência, outros personagens surgem... Se é para não viver qualquer personagem, não podemos ter contatos - uma alma isolada!
Acho salutar essa insatisfação que nos acompanha. Algumas mulheres conseguem a cada troca de roupa, também trocar de personagem. Engraçado que pensei sobre isso hoje pela manhã quando desci as escadas da minha casa. Ah, não sou bipolar, mas o nosso personagem muda (como a visão que temos das coisas) conforme está o nosso humor.
Mudar de personagem em definitivo é quase impossível! Se você desfaz uma situação que traz desânimo ou que te escraviza - como um casamento - ao seu personagem estará agregado mais uma faceta impressa pelos anos de convivência.
Não pude vir confraternizar com você no dia do amigo, mas cá estou lhe desejando felizes dias!!
Beijus,