segunda-feira, novembro 23, 2009

Eterna sedução


O encontro entre Bento XVI e um grupo de artistas (muitíssimo maioritariamente italianos) numa tentativa de reaproximar a igreja católica do universo estético tem muito que se lhe diga. Por um lado mostra como a hierarquia da igreja parece ter, finalmente, acordado, dando consigo em pleno século XXI sem influência nos centros de poder, sem capacidade de recolher "impostos" devidos pelos serviços prestados tendo em conta a salvação das almas do pessoalzinho, enfim, a igreja católica começou a olhar-se no espelho. O reflexo mostra uma velha vaidosa mas incapaz de comprar todos os vestidos e de pagar todas as operações plásticas que lhe garantiriam mais um ou outro pretendente de última hora.

O que a igreja parece estar a esquecer é que os maiores artistas da actualidade determinam os seus próprios programas iconológicos (e iconográficos) por serem normalmente livres de corpo e de espírito. Dificilmente a igreja conseguirá encomendar obras em que imponha um rigoroso controlo sobre a produção artística. A menos que o artista seja de tal maneira devoto que aceite tornar-se o "pincel de deus" (esta expressão é demais!) como se afirmavam os artistas medievais, de tal modo crentes, humildes e dependentes da igreja que nem sequer assinavm as suas obras. Elas eram, na verdade, obra de deus e eles meros instrumentos dos insondáveis desígnios da divindade.

A igreja parece vir agora com um sorriso nos lábios e uma voz mansinha aliciar os artistas com a necessidade de criarem beleza e demonstrarem fé e tudo o mais, para glória de deus (?). Pessoalmente e cá no fundo, olhando para Bento XVI, tenho a sensação de que o homenzinho está com esta coisa toda a tentar recuperar o velho hábito dos papas-mecenas. Quantos papas não deixaram os seus nomes associados a grandes artistas e a incomparáveis obras de arte? A dúvida que se me coloca é se este desejo de deixar nome associado a obra não configurará o mortal pecado da vaidade? Náááá, não deve ser. O papa é santo!

6 comentários:

Lina Faria disse...

É. Não vai dar certo.
O absolutismo acabou e a arte não mais tem a função de agradar.

Anónimo disse...

Penso exatamente como a Lina. Não vai dar certo!

Silvares disse...

Lina, Eduardo, o ponto é esse aí, será que num ambiente despoluído de fumos de incensório os artistas vão agradar aos representantes de deus na Terra?

the dear Zé disse...

E que santo...

Silvares disse...

Um santo e pêras... ou serão maçãs?

MUMIA disse...

também acho o sr santo padre é mesmo SANTO, com auréola e tudo( a voar??...).
:=D]]