terça-feira, outubro 07, 2025

Encontrar desculpas

    Ia ter que encontrar uma explicação para justificar a sua atitude. Não seria tarefa fácil. Além de uma história plausível iria ter de encontrar o tom de voz adequado, a pose, o olhar... nada poderia ser deixado ao acaso. O acaso nem sempre resolve as coisas como seria de esperar, muito menos as resolve da melhor maneira. Tem dias!

    Por muito que puxasse pela cabeça não lhe ocorreu nenhuma ideia genial. Ali estava, sentado, transpirando como um cavalo. Contorcia os dedos das mãos com tanta força que, diz quem viu, parecia não ser capaz de os desembaraçar assim que pudesse sossegar um pouco. Tornar-se-ia um ser estranho, caso isso acontecesse, os dedos entrelaçados de tal maneira que não conseguisse separá-los nunca mais. No caso de tal desgraça sempre poderia tornar-se curiosidade numa feira de aberrações que algum jovem empresário pudesse, um dia, vir a criar. Uma vida inteira a tentar desfazer-se.

    Não conseguiria pedir desculpas se primeiro não fosse capaz de as encontrar. Encontrar, até, as supostas culpas, eis algo que lhe estava a ser penoso. Sentia-se confuso, sentia-se perdido: "já nem sei bem o que sou..." rodopiou os olhos e continuou: "... sei perfeitamente quem sou, até consigo recordar o meu código postal, mas não faço a mínima ideia daquilo que sou." Fez uma pausa e concluiu: "Não tenho a certeza dos meus limites". Fosga-se!

    Pensamentos deste calibre não contribuíram nada para a saúde mental do indivíduo.   

domingo, outubro 05, 2025

Livros

     Aqui há dias concluí a leitura de "O caçador de histórias", de Eduardo Galeano. Nunca antes tinha lido nada do escritor uruguaio que adorava futebol (e que, tal como me aconteceu, sonhou vir a ser futebolista quando crescesse). Foi uma experiência repleta de momentos luminosos.

    Um ou dois dias antes de ter começado a caçar histórias na companhia de Galeano tinha lido "Tsunami", da autoria de Alexandre Dale que, na minha cabeça, continua a ser O Poeta. Foi o primeiro livro editado pela nova editora, Tordesilhas, do meu amigo José Xavier Ezequiel. No lançamento do livro tive oportunidade de explicar a minha perspectiva da coisa ao próprio autor que me disse algo do género: "pois, não pensei nisso". E eu a pensar que tinha descoberto a razão da coisa, o estratagema do autor... tiro ao lado, tiro ao lado, tiro ao lado; alvo limpo e sem furos.

    Ontem comprei o mais recente livro de Ian McEwan.

sexta-feira, outubro 03, 2025

Melhor pensar na morte da bezerra

     Anteontem senti um apelo mórbido vindo lá detrás do meu cérebro; resolvi googlar "pessoa idosa". Mais valia ter ficado quieto. Fiquei a pensar no caso e na coisa. 

    Ontem fui até à porta da embaixada israelita em Lisboa e participei na manifestação a favor do povo palestino. Senti-me bem. 

   Descontando a descida da Avenida da Liberdade por ocasião do 25 Abril,que me lembre, já não participava numa manifestação há um bom par de anos e aquela, ontem, foi saudavelmente selvagem. Pareceu-me haver muita gente jovem. Quando alguém, no palco, lembrou que "há 30 anos participámos em manifestações semelhantes a esta por Timor" pensei que uma grande parte dos manifestantes de ontem ainda não teriam nascido ou, se participaram nessas manifestações, fizeram-no ao colo ou às cavalitas dos pais, como aconteceu com a minha filha.

    Hoje pela manhã dei por mim a reflectir sobre as questões que registei acima. E, pela primeira vez, pensei: eu não estou a lutar por um mundo melhor para viver, eu luto por um mundo melhor para morrer. E agora, que já são quase duas da tarde, penso: valha-me Nossa Senhora.