Não sei se também te acontece, há dias em que nada me convence e quase nada me comove. Dias em que não acredito em ninguém, em que não suporto a grandeza de gestos magnânimos e nem sequer chego a indignar-me com a baixeza de espírito que caracteriza certos estúpidos e a maior parte dos filhos da puta. Dias como este, em que escrevo as palavras que agora lês.
Sinto uma espécie de vazio chato, um vazio mau. É mais um bicho que se me alojou ali entre o peito e o estômago e não me deixa sossegar, um bicho que me aperta o coração a ponto de eu soltar suspiros que há muito mantinha prisioneiros da minha boa disposição que entretanto vai tendo dificuldade em se manter equilibrada na única perna que lhe resta.
Apetece-me fazer alguma coisa, seja o que for? Não. Não me apetece fazer nada mas ainda vou ter que me levantar, vestir uma roupa mais decente, sair de casa e ir ao teatro ver uma peça cuja perspectiva não me entusiasma por aí além.
A esperança é que esta aparente valente seca tenha um efeito regenerador, que a deslocação me desperte um pouco, que o teatro me anime, enfim, a esperança é que a vida aconteça e que o tal bicho vá chatear outro. Não sei se já te aconteceu.
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