segunda-feira, abril 15, 2024

O Zé e o Midas

     Muitos remoques caem sobre o actual governo da República por ter prometido aquilo que, afinal, tinha sido oferecido pelo governo anterior. O espantoso choque fiscal anunciado por Montenegro na campanha eleitoral era, afinal, uma duvidosa habilidade retórica. Este canto de sereia terá levado muitos eleitores a depositar a cruz do seu voto na aliança de direita, permitindo-lhe desse modo a ligeira vantagem que lhe conferiu a vitória nas urnas.

    Ai Jesus, que Montenegro mentiu! Que desfaçatez, Montenegro enganou, ludibriou, foi habilidoso, quase maquiavélico... agitam-se os braços, rasgam-se as vestes, arrepelam-se cabelos em público; da esquerda à direita parlamentar todos apupam o primeiro-ministro. Como de costume, o eleitor, o Zé, o grande povo português, é poupado à reprimenda. 

    Quem orienta o voto tendo por base promessas meramente económicas recebe de troco, exactamente, aquilo que merece. Quem acredita que "tempo é dinheiro" e sabe que "não há almoços grátis", quem não é de direita nem de esquerda, é pragmático ao ponto de actuar sem conhecer, quem, enfim, anda neste mundo por interesse, não tem grande moral para se queixar quando as coisas não correspondem ao seu sonho dourado.

    Se analisarem bem o mito, o Rei Midas não passava de um imbecil ignorante.

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