O vento fazia das árvores uma matilha de cães saídos da água que tentassem secar-se. Mais atrás, as fachadas dos prédios entristeciam perante a chegada do sol; vidraças sujas, papéis e jornais colados por dentro com pedaços de fita-cola, reclames de cores esbatidas, queimados, caixas de ar condicionado trepando paredes até onde a vista alcançava. Percebia-se a habitação do espaço, sentia-se tristeza.
Apesar de tudo flores amarelas refulgiam como sóis, esperançosos apontamentos de cor.
Os carros passavam, anónimos, mecânicos, como se fossem fabricados pela rua, como se a cidade tivesse a função de os produzir ininterruptamente. Um relógio mudo marcava segundos, minutos, horas, também aquele dia haveria de tornar-se um número anónimo riscado no calendário. Estranhamente nada daquilo lhe provocava qualquer tipo de sensação particular.
Uma sereia cantou e nem assim as coisas se alteraram.
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