Sinto-me a existir cada vez mais próximo de uma fronteira que separa aquilo que sou daquilo que esperam que eu seja. Essa fronteira sempre esteve lá mas o longe vai-se fazendo perto. O passar dos anos é caminho que vai sendo feito e parece-me que avisto já a guarita do guarda alfandegário.
Estar mais velho provoca-me situações de alguma vertigem, algum desconforto. Principalmente quando estou com pessoas mais jovens e conversamos. Seja qual for o tema há sempre uma história a propósito que posso contar. A sério? Que seca! Talvez devesse calar a boca, mas não, dou por mim e já avanço em passo de corrida história adentro. Arrependo-me sempre tarde de mais.
Depois começa a acontecer-me não ter a certeza se já contei aquela história àquela pessoa.
O guarda alfandegário tem uma farda cinzenta (ou será azul clara?) e está a ler um jornal enorme, com folhas que parecem lençóis. Uma ligeira brisa dificulta-lhe a leitura e ele parece irritado. Acho que me vou sentar um pouco e esperar que tudo passe ou, pelo menos, que tudo acalme. Então será tempo de avançar.
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