Todos nós sentimos uma ou outra vez um certo fastio em sermos quem somos. Quem nunca se cansou de viver consigo próprio que atire a primeira pedra! Falando por mim: não é raro querer fugir da minha própria companhia. O problema reside em que estratagema experimentar na tentativa de evasão.
Os truques disponíveis não são assim tantos nem particularmente eficazes e insistir na fuga poderá ter resultados catastróficos. O melhor será fazer tentativas esporádicas.
Quando, por vezes, a fuga é coroada de sucesso sentimo-nos reis do mundo, por um momento que seja. Mas há um problema irresolúvel: acabamos sempre por regressar. Ao nosso corpo, à nossa vida, enfim, é impossível fugirmos daquilo que somos.
Parece-me insofismável afirmar que o corpo acaba sempre por triunfar sobre a mente. Mesmo quando alguns de nós perdem a noção do Ser acabam a vegetar dentro de si próprios, como cães perdidos a farejar num cemitério; não é fuga, é esquecimento.
Resta-nos então a morte, esse imenso mistério.
Nota: tenho andado a ler Nada a Temer de Julian Barnes, uma longa reflexão sobre a morte.
Sem comentários:
Enviar um comentário