Tenho andado meio perdido. Quero dizer, perdido... perdido, não será bem a melhor forma de me referir ao que se tem vindo a passar comigo nos tempos mais recentes. Sei bem onde estou: não estou em lugar nenhum. Portanto estou longe de estar perdido.
Mesmo o acto de escrever estas palavras me parece algo estrambótico, como se entre mim e o teclado houvesse mais do que espaço, houvesse tempo; mas um tempo estranhamente elástico, um tempo maior do que o mostrador do relógio é capaz de nos fazer compreender. Um tempo que me alonga os dedos e faz das minhas mãos aranhiços dançantes, aranhiços bêbados, impacientes.
Talvez isto não faça sentido. Parecem-me apenas palavras, um pouco perdidas umas das outras. Palavras que formam ideias, ideias que chovem como se chovessem sapos.
Este texto é um daqueles que não têm princípio, nem meio, nem fim, embora possa parecer que tem essas coisas todas. Não tem. Entrei nele como aqueles vagabundos dos filmes, cuja acção se desenrola numa América triste e depressiva, que saltam para vagões abertos de comboios em andamento. E seguem viagem com o sol a pôr-se e uma tristeza grande a misturar-se com a esperança em dias melhores. As coisas boas parecem estar sempre no futuro.
E é isto. Perdido na América do meu descontentamento, viajando neste comboio de palavras, imaginando ser alguém que talvez não seja eu... perdido... perdido, não será bem a melhor forma de me referir ao que tem sido a minha vida. A verdade é que o futuro é sempre um pouco mais adiante.
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