Habituámo-nos a pensar que a Democracia se constrói com base no diálogo, na confrontação de ideias que estão na base de perspectivas diferentes para a organização da sociedade. Imaginámos que seria possível perpetuar esses sistema de funcionamento, delegando os nossos interesses em representantes eleitos que procurariam consensos nos Parlamentos, buscando soluções adequadas e tendo como finalidade o bem comum.
Tudo isto só poderia correr bem pois um desses objectivos seria a educação das populações, a elevação da sua capacidade de reflexão e discernimento. Com uma sociedade cada vez mais informada o Nirvana começava a desenhar-se no horizonte próximo. Só faltavam os unicórnios e os passarinhos.
Esquecemos a tendência natural do ser humano para a boçalidade, a agressão e a necessidade típica do macho em ser o bicho dominante, o líder da manada. A Democracia revela-se demasiado frágil precisamente num dos seus aspectos mais importantes: a tolerância.
Nos tempos que correm o diálogo não ultrapassa o nível da conversa de surdos. E, como qualquer conversa de surdos, degenera em gritaria. As ideias transformam-se em verdades absolutas, o consenso é uma impossibilidade. Erguem-se barreiras de incompreensão que se transformam em barricadas. Estamos prontos para o que der e vier.
Precisamos de estar alerta, precisamos de elevar a nossa capacidade de conter a raiva e continuar a procurar o diálogo. Alguns antagonistas recentes poderão ser os nossos aliados do futuro próximo. Para mantermos a possibilidade de uma sociedade democrática devemos identificar com clareza os verdadeiros inimigos mortais, para os derrotarmos alianças estranhas terão de ser estabelecidas. A sobrevivência daquilo em que acreditamos exige atitudes extraordinárias.
Vem aí o tempo dos monstros.
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