quarta-feira, outubro 19, 2011

Sociedade criativa

Nos últimos tempos tenho lido vários artigos que depositam todas as esperanças de um futuro melhor naquilo que é, mais ou menos, genericamente designado por "sociedade da criatividade". Num desses artigos o autor explanava uma interessante teoria segundo a qual após uma sociedade agrícola que foi suplantada pela sociedade industrial que viria a ser ultrapassada pela sociedade do conhecimento estamos agora a assistir à deslumbrante aurora da sociedade criativa. É bonito.

Esta proposição faz todo o sentido. A sucessão de acontecimentos encaixa melhor que as peças de um puzzle para meninos pequenos e o resultado é de um brilho cristalino. Imaginar uma sociedade da criatividade na qual o sucesso está ao alcance de qualquer um (que benificie dos sucessos da outras sociedades entretanto ultrapassadas e tenha acesso ao consumo de bens agrícolas, industriais e tecnológicos), imaginar uma sociedade deste tipo dá algum conforto nos tempos que correm.

Para uma pessoa como eu, que me imagino criativo, um cenário deste tipo proporciona um certo alento. O problema é como rentabilizar a minha criatividade? Aí é que as coisas começam a retorcer-se um bocadinho; é que a criatividade, encarada por esta perspectiva, é coisa para gerar riqueza e, nesse aspecto, sinto-me um tanto falhado.

Quero dizer, penso que a criatividade pode gerar muitos tipos diferentes de riqueza que não são, obrigatoriamente, do tipo monetário ou económico. A beleza, a solidariedade, a felicidade, as coisas que me comovem, nem sempre valem dinheiro. Vendo bem as coisas, raramente valem dinheiro e, quase sempre, exigem muito trabalho.

Lamento dizê-lo a mim próprio (e a ti, caro leitor, que tens a paciência de ainda aqui estar): a criativade é um bicho do mato que não aceita a gaiola onde a queremos meter para poder gerar proveito económico, como se fosse animal de circo. Isto necessita de mais reflexão. Quem sabe onde poderemos chegar? Se formos criativos...

5 comentários:

rui sousa disse...

Rui, há algumas teorias que propõem o decrescimento económico como a grande meta para o futuro. Essas teorias partem do principio que não é mais possível continuar a ter uma economia baseada na a exploração dos recursos naturais, que apontam como o principal factor da crise que atravessamos. Eu não iria tão longe nesse decrescimento, porque me parece uma equação cheia de boa vontade mas aparentemente condenada ao insucesso. Mas há outras teorias que sugerem substituir esta economia material ( que produz coisas, a maioria delas acabam em lixo em pouco tempo ) por uma economia que produz emoções, como por exemplo a da arte e dos espectáculos. De facto podemos pensar, por exemplo, no futebol que gera milhões e tem um impacto na natureza muito mais pequeno. O teatro, cinema os concertos de musica, enfim, quase toda a industria do efémero pode gerar milhões e criar um impacto natural muito mais pequeno. Assim voltávamos à agricultura, reduzíamos a industria à estritamente necessária e transformávamos a restante economia numa economia de lazer, de criação e de emoções. Utopia? Talvez não. Pode muito bem ser a luz ao fundo do túnel.

Jorge Pinheiro disse...

Neste "paradigma" social até a criatividade paga IVA.

Claire-Françoise Fressynet disse...

Dividir os empregos por todos / trabalhar metade do tempo (4h), são 20h para aborrecimento!!!

Anónimo disse...

Rui,

acho que já estamos vivendo essa NOVA era. Esses meninos que de um dia para o outro criam (criatividade ) empresas que em dois anos valem 40 milhões de dolares, e não colocaram dois tostões, a não ser muita criatividade! São as empresas voltadas para a digitação de dados, internet e etc...Só não sei se todos esses "criativos", não se dariam bem financeiramente nas eras passadas, as ditas agricolas ou industriais! Fazer fortuna é uma capacidade individual, e que vem no DNA, e não se aprende na escola, nem nos livros!
Quando diz que seus valores, não podem ser medidos por quantidades de dolares, somos obrigados a aconcordar, que dinheiro pode não trazer felicidade, mas facilita... muito....

Silvares disse...

Rui, será difícil mas podemos sempre tentar.

Jorge, a criatividade sempre pagou IVA, ou é impressão minha?

Claire, é uma ideia!

Eduardo, a felicidade e o dinheiro podem ter uma relação de amizade...