domingo, janeiro 09, 2011

Ser Humano


Tentamos provar a nós próprios que não existe aquilo a que vulgarmente se chama "choque de civilizações". Esforçamo-nos por imaginar que as diferenças culturais profundas entre o Ocidente, democrático e capitalista, e o Islão, fundamentalista religioso e entregue aos caprichos de Alá, não são como feridas em putrefacção, antes se assemelham a cicratizes mais ou menos limpas de infecção. Não é fácil acreditar numa coisa destas.

O desconhecimento da realidade longínqua é quase tão grande como o da realidade que nos é próxima e familiar. Por muito que nos esforcemos na tentativa de encarar a diferença como algo normal, há coisas que nos fazem saltar as tripas para junto do coração. A notícia de uma manifestação a favor da manutenção da pena de morte por blasfémia, realizada no Paquistão (ler aqui), atinge-me como um soco no focinho.

Lendo bem a notícia vemos que foram apenas 20 mil os manifestantes, número que é uma ninharia até num país pequeno como é Portugal. Fazemos a toda a hora manifestações muito maiores. O que me choca não é o número mas o motivo. E penso "que se lixem!". Se é o que querem têm o direito de o ter. Ou não?

São coisas como esta que mostram como é impossível manter aquilo que designamos por Direitos Humanos. São coisas como esta que me mostram com clareza que "Ser Humano" é um conceito e não uma condição universal a todos os que, como eu, pertencem a esta espécie animal. Valerá a pena fazer guerras por causas deste género?

6 comentários:

Anónimo disse...

rui,
o ser humano é uma fraude, poucos escapam.
madoka

the dear Zé disse...

o ser humano é por excelência e em exclusivo, desumano

(aproveito para de desejar um bom ano, se é que ainda vou a tempo e para te deixar aqui um prendinha de natal, esta sim mesmo a tempo, se já a tens, tudo bem, senão, melhor ainda. toma lá e não me digas que não é uma delícia?:)

http://www.youtube.com/watch?v=sMoKcsN8wM8

Olaio disse...

Andas muito sensivel, não percebo o teu choque com estes defensores da morte. Por acaso não tens tido noticias de manifestações muito maiores nos EUA pelo direito a andar armado?
E podes crer que a razão pela qual querem as armas não é própriamente para caçar pardais.
Já para não falar em manifestações pla manutenção da pena de morte.
Mas pronto, estamos no país da liberdade e lá o que conta é a liberdade (de o mais forte) poder matar quem quiser.
Abraço.
:))

Silvares disse...

Madoka, que deus pode criar uma coisa assim?

Zé, se é humano não deveria ser o contrário. Ou devia? Obrigado pelo presente.

Olaio, lá estás tu com o teu mau feitio. O post fala do direito (ou não) de cada um a ser aquilo que entende por ser humano. Os paquistaneses pretendem ter o direito a executar quem blasfeme. Pessoalmente não ma parece lá muito boa ideia. Nem isso nem andar armado na rua. São coisas diferentes mas igualmente inquietantes.

Olaio disse...

Ah, prontos!
Julguei que o que estava em causa era o direito à vida, mas pelos vistos é só uma questão religiosa.

Silvares disse...

O direito à vida... ora aí está uma coisa que dá muito que pensar.