A caveirinha
Na minha adolescência utilizávamos uma expressão que já esquecera e recordei hoje, a propósito de mais uma notícia sobre o trabalho artístico de Damien Hirst. A expressão era "o mais caveira" para designar alguém digno de admiração, alguém que se mostrava capaz de causar espanto fosse pelas suas atitudes, fosse pela sua capacidade de expressar ideias; "aquele gajo é o mais caveira, caraças!"
Hirst parece querer ser o mais caveira no mercado da arte. Depois da sua célebre obra "For the Love of God", uma caveirona em platina, coberta por 8 601 diamantes de 1 106 16 quilates (não percebo bem o significado destes números) a mais cara obra de arte portátil de todos os tempos, volta ao ataque com uma caveirinha revestida com 7 105 diamantes rosa e 1 023 diamantes brancos com o título "For Heaven's Sake". Hirst citando-se a si próprio, como é bom de ver.
Estas caveiras valem balúrdios, somas incalculáveis, algo que, no mercado da arte, pode muito bem acontecer. Mas, no caso das caveiras de Hirst, o valor é mais objectivo que noutros casos. Um urinol que vale milhões não entra na cabeça de ninguém; caveiras incrustadas com diamantes são imediatamente compreendidas. Assim não custa perceber o valor de uma obra de arte.
Como seria de esperar, esta caveirinha de bébé, lá causou alguma polémica. Algumas pessoas sentiram-se ofendidas com o brilhante objecto, principalmente pessoas que perderam filhos e não engolem o gesto artístico de Hirst. Este género de reacções nunca deixa de me surpreender. Há sempre alguém pronto a desatinar seja qual for a razão ou a situação, há sempre alguém com um protesto à porta da boca. Hirst talvez agradeça ou simplesmente ignore tais protestos. Afinal de contas ele é o mais caveira!
2 comentários:
eheheh! belo texto rui!
essa do mais caveira não conhecia... muito bom !
e essa do protesto à porta da boca melhor ainda!
um abraço! bom ano!
Expressões viseenses dos finais dos anos 70, grande agitação intelectual estranhamente estimulada.
:-)
Abraço.
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