segunda-feira, agosto 23, 2010

Voar e rolar


As férias podem ser cansativas. Imaginamos sempre um tempo de descanso quando chega o dia mágico em que o trabalho fica em lista de espera mas, como tenho feito desde esse dia, podemos optar por entrar numa corrida desenfreada. E o descanso é mais psicológico do que físico.

Uma viagem entre Lisboa e Tóquio leva bem um dia de vida ao viajante. É o (pequeno) preço a pagar pelo atrevimento de ir tão longe e, depois, regressar para tão perto. Quanto tempo teriam os viajantes de outras eras que oferecer aos deuses das estradas, dos mares e das montanhas, antes de os deuses dos ares e das nuvens terem garantido o quase monopólio do negócio?

Para nós, aeronautas contemporâneos, um dia a voar, com ligeiros poisos aqui e ali, em diferentes aeroportos que, no fundo, são quase iguais, parece uma coisa extrema, uma aventura descabelada que põe em risco os nossos níveis habituais de comodidade. Quando sentimos isso, Vasco da Gama deve dizer palavrões e chamar-nos uma coisa que não sei qual seja, a coisa que antigamente se chamava àqueles que hoje chamamos de "mariquinhas" (o políticamente correcto que vá dar uma volta :-).

Depois de 4 horas no ar e mais 3 em terra, outras onze a voar ininterruptamente entre Londres e Hong Kong, mais outra espera e, finalmente, saltar em direcção ao aeroporto de Narita para, finalmente, apanhar um autocarro que nos levasse até ao hotel, em Tóquio, faz com que as horas se tornem coisa estranha. Ora dilatam, ora diminuem, de acordo com as nossas sensações e estados de espírito.

Já cheguei a Portugal há alguns dias (viajei imediatamente mais umas centenas de quilómetros conduzindo o meu carro, para lá e para cá) mas o relógio continua a mentir-me e eu a ele. O Japão começa a tomar aquela forma que as recordações ganham passado algum tempo. Os pormenores perdem intensidade e apenas as fotos e as notas que registei me permitem recuperar alguns momentos agradáveis que, de outro modo, acabariam perdidos na imensidão das gavetinhas no meu cérebro.

Isso fica para um outro post que este já vai longo de tanto voar e rolar na memória das viagens.

6 comentários:

Anónimo disse...

Gostei da imagem do Ladinho, e da que ilustra este post! Finalmente...

Lord Broken Pottery disse...

Como diria Álvaro de Campos:

Para Cardiff? Para Liverpool? Para Londres? Não tem importância.
Ele fez o seu dever. Assim façamos nós o nosso. Bela vida!
Boa viagem! Boa Viagem!

Grande abraço

Anónimo disse...

Finalmente uma aparição sua, coisa inédita.
Então não gostou de Quioto?
Caramba teve tanta conexão assim pra chegar até aqui?
Eu sou de SP, fui pra Holanda, passei pela Coréia e depois Nagoia, pra chegar até aqui. Canseira.
Não posso reclamar, meus pais demoraram 1 mês de navio até o porto de Santos.
bjk
madoka

Silvares disse...

Eduardo, Madoka, essa é a minha família mais chegada. São as minhas meninas.
:-)

Quioto pareceu-me bastante diferente de Tóquio. Mais turistas e menos proximidade das pessoas. Mas só posso dizer coisas boas, fui muito bem tratado. Tudo bom!
.-)

Lorde, bons olhos o (re) vejam!!! Há quanto tempo!

Jorge Pinheiro disse...

Há jets que valem a pena. Bem vindo.

Silvares disse...

Ainda não parei de cirandar Portugal acima e abaixo. Talvez hoje lance, finalmente, a âncora...