quinta-feira, agosto 26, 2010

Eco


Imagem de um inesperado e barulhento cortejo de samba numa movimentada ruela de Tóquio

Dizem que uma das coisas boas que as viagens têm é o regresso a casa. Esta ideia tem o seu fundo de verdade. Regressar ao meu espaço privado é sempre gratificante. Reencontrar os objectos, os ambientes familiares, refazer os trajectos habituais é, agora e durante alguns dias, uma espécie de banho frsco em água limpa que me deixa o espírito calmo e revigorado.

As primeiras impressões são revestidas por um olhar mais atento do que o habitual. Os defeitos e as virtudes das coisas parecem mais evidentes, há um distanciamento adocicado, uma benevolência meio sonâmbula, uma paz interior que se vai diluindo com a passagem do tempo. Há um eco de memória...

Comparar o que vi do Japão com aquilo que vejo em Portugal é como tentar perceber se um doce de amêndoa é melhor que uma bifana de porco. São coisas tão diferentes que qualquer comparação pecará sempre por defeito ou por excesso, nunca se chega a compreender.

Gosto de viver aqui.

3 comentários:

Anónimo disse...

Essa sensação descrita do retorno, e o olhar e sentir nossas coisas, também já observei, nas voltas de viagem!

Anónimo disse...

outro dia tava vendo entrevista do ator Pedro Cardoso e ele falou mais ou menos o seguinte: ''quando uma pessoa nasce, nasce num país e que os outros países do mundo não querem vc lá, então ser a sua nacionalidade é a sua condenação. Nós temos que resolver os problemas do Brasil. Não há como escapar. O homem pode ganhar dinheiro e ter uma vida internacional, mas ele nunca vai sair do seu país, pode imigrar, vc sempre vai ter o país dentro de si, vc é condenado a ele...''
Concordo muito.
É bem por aí mesmo, poderei viver 30 anos aqui, mas meu olhar, meus sonhos, meu imaginário é de uma brasileira. Não tem jeito.
Quero também um dia qdo voltar ter essa sensação e de poder fincar a minha 'âncora'.
beijão
madoka

Silvares disse...

Eduardo e Jorge, O regresso faz parte integrante da viagem. Marca o seu final.
:-)

Madoka, a língua que falamos mostra-nos o mundo de uma forma particular. Construímos a nossa visão do mundo falando. Há coisas que são ditas em Português e não se podem traduzir noutras línguas e vice-versa. Como disse Pessoa "A minha pátria é a língua portuguesa"...