Lembro-me vagamente de umas aulas, talvez de Estética, a que assisti nos meus primeiros tempos como aluno da Escola de Belas-Artes de Lisboa. Não consigo precisar, passaram várias décadas e a minha memória nunca foi de fiar. Debatia-se a possibilidade da existência de características intrínsecas da obra de arte. Que isto, que aquilo, que teria de ter ou não poderia faltar, as hipóteses iam sendo apresentadas e debatidas. Para me recordar ainda hoje é porque a coisa me interessou e motivou.
Uma das hipóteses colocadas para que um objecto artístico possa assim ser considerado foi a da sua escala. Quanto maior a escala maior a probabilidade de o objecto vir a produzir uma sensação de deslumbramento no espectador capaz de o levar a considerar estar perante uma obra de arte. É uma perspectiva curiosa mas algo redutora.
É como se a obra de arte tivesse entre as suas potencialidades a capacidade de nos reduzir à nossa insignificância enquanto indivíduos, como se, para existir, a arte tenha de possuir o condão da enormidade, da inacessibilidade, como se a arte, para o ser, tenha de nos esmagar o ego.
Talvez esteja a exagerar mas, quando um gajo reflecte, as ideias vão surgindo em catadupa. Muitas delas podem estar erradas ou, pelo menos, podem não ser muito consistentes, pedindo reflexão, mas na vertigem do pensamento ainda são apenas coisas por nomear, falta-lhes rigor, não passam de projectos de sonhos para serem sonhados quando houver tempo para o fazer. É o que se está a passar aqui, neste momento.
Veio-me isto à memória e ao tropel do pensamento por ter visto umas imagens de uma instalação de Joana Vasconcelos, uma artista que explora frequentemente a escala do objecto e a sua relação com o espaço como forma de estimular no espectador a sensação de estar perante uma obra de arte.
Penso que nenhum artista pretende reduzir a sua criação ao gigantismo. Mas o gigantismo é uma armadilha sedutora que provoca desastres frequentes. Que o diga Golias.
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