terça-feira, janeiro 03, 2023

Mentiras

     Demasiados espaços em branco, memória esburacada (se comparasse a minha memória com um queijo suíço estaria a derrapar no lugar comum). Não sei se deva preocupar-me com tamanhas falhas de memória, na verdade consigo recordar certos pormenores de coisas há muito passadas mas isso sabe-me a pouco. Tenho fome de recordações.

    Diz o outro que "recordar é viver". E não ser capaz de o fazer, será o quê? O contrário de viver é morrer? Não me parece, seria demasiado óbvio. O contrário de viver é andar para aí a fornicar a existência de quem nem sequer conhecemos, o contrário de viver é matar não é morrer.

    Não ter memória obriga a uma grande concentração no momento imediato, obriga a vasculhar no presente sinais que nos orientem num possível regresso ao passado. Sim, porque há sempre um vislumbre, uma cortina translúcida a esvoaçar, uma forma que se destaca do nevoeiro até fazer sentido. A mente é uma coisa traiçoeira. A mente mente.

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