Desejar sossego é como esperar um fantasma que nos visite ao pequeno-almoço. Um fantasma simpático, sentado à cabeceira da mesa, todo ele apenas um sorriso. O fantasma não vem, o sossego também não. O lugar prometia silêncio e isolamento. Contas furadas. Começam a chegar carros a este fim do mundo, com pessoas dentro. Pessoas faladoras e bem dispostas, ao menos isso. Ao que parece vão reunir-se para uma celebração religiosa na capela que fica ao lado da casa onde viemos parar desejando sossego. Seja feita a vontade do Senhor.
Trás-os-Montes é um território portentoso. Belo, a prometer selvajaria, montes a perder de vista, um céu azul enfeitado por nuvens muito brancas a perder de vista. Para aqui chegarmos percorremos auto-estradas, itinerários principais, itinerários complementares, estradas nacionais e, finalmente, estradecas esconsas, ladeadas por pinheiros e carvalhos, aldeolas de ruas desertas, finalmente a casa de xisto onde nos instalámos. Uma bela casa, lugar perdido, lugar isolado a prometer sossego. Até que começam a chegar carros, dos carros vão saindo pessoas, pessoas faladoras, pessoas bem dispostas. Ao menos isso.
Ouço dizer que o Senhor Padre chegará por volta das seis e meia. Caramba, nem aqui, no fim do mundo, Deus deixa um gajo em paz e afugenta o fantasma do sorriso. Da capela sobe um cântico a fazer-me recordar a igreja da minha aldeia beirã. O catolicismo é massa unificadora deste portugalzinho rural, perdido dentro de si próprio.
Está visto que desejar sossego é pedir demais a Deus Nosso Senhor.
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