quarta-feira, agosto 05, 2020

Ausência

Acontece de cada vez que regresso à cidade onde vivi até aos meus 18 anos de idade. Venho com muito tempo de intervalo entre cada visita e, como seria de esperar, não percorro todos os trajectos que preencheram o meu passado. É por isso que, de vez em quando, me acontece esbarrar com lugares que, estando ali mesmo, à minha frente, são lugares que já não existem.

Hoje vi o lugar onde já não existe a casa onde habitou o meu avô. Já lá não está o gradeamento, nem o portão, nem as escadas gémeas que subiam até ao patamar da porta com o batente de ferro em forma de mão. Já lá não estão as japoneiras, nada resta do meu passado. Agora há um prédio em construção com operários a suar sob um sol abrasador, tudo isto produz um estranho silêncio dentro de mim.

Fiquei estúpido, a olhar. Tirei uma foto com o telemóvel que enviei ao meu irmão com a legenda: "A casa do avô Mário!"

O meu irmão não respondeu.

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