sexta-feira, agosto 23, 2019

Graal

Quando me deparei conscientemente com a questão da liberdade individual, aí pelos meus doze ou treze anos, deixei de acreditar em Deus. Era para mim impossível aceitar a ideia da Sua existência enquanto polícia, juíz e carrasco da Humanidade. Um ser omnipresente metediço e repressor omnipotente não encaixava com o ideal libertário que começava a tomar forma na minha mente.

Passei a adolescência convicto da superioridade absoluta dos meus pontos de vista apesar da fragilidade dos seus alicerces e da ignorância característica dessa idade. Apercebo-me agora que estava apenas preocupado em viver cada dia como se fosse uma promessa de algo que, então, não me passava pela cabeça, algo que viria no dia seguinte ou no outro, algo bom e completo que fizesse sentido e me permitisse uma sensação de plenitude.

Continuo à espera de perceber que coisa era essa.

Hoje já não acredito tanto que chegue a encontrar esse meu Graal pessoal e particular, ficaria satisfeito se conseguisse perceber, mesmo que apenas vagamente, os seus contornos, quanto mais a sua essência!

Chego à conclusão de que, de certo modo, nunca ultrapassei a adolescência (terei ultrapassado a infância?) e que a idade adulta é uma abstracção absoluta. Ou será a idade adulta esse tal Graal?

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