domingo, setembro 18, 2016

La muerte

Hoje acordei com vontade de me irritar com qualquer coisa. Levantei-me a resmungar, deixei escorrer um pouco de café frio para cima de um pé descalço, tive de me apressar em direcção à sanita não fosse a natureza abusar da minha confiança.

As razões para que despertasse em mim a irritação desejada pareciam acumular-se com a precisão do mecanismo do relógio que não tenho no pulso mas que trago dentro da memória. Quando consegui uma chávena de café razoavelmente fumegante e me sentei na mesa da cozinha com os Cem Anos de Solidão à minha frente não tinha bem a noção do que fazia.

Continuo a leitura de Garcia Márquez (há quantos dias ando eu nisto?). Como sempre levo tempos infinitos para terminar um livro porque encaro a leitura como se fosse um peqeuno-almoço para o meu cérebro e para a minha imaginação. O que é verdade é que, após duas páginas, a irritação esfumou-se, o meu desejo matinal viu-se recusado pelo subconsciente que o havia convocado.

Estraguei a estragação do dia que se aprontava para me aparecer um pouco lá mais para a frente na linha do tempo. Percebi que não posso desejar irritar-me com alguma coisa e ler, em seguida, algumas páginas de um livro magnífico. Uma coisa não se compadece da outra.

O coronel Aureliano Buendía enforcou-se no castanheiro do quintal.

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