segunda-feira, setembro 26, 2016

Almada (Mestre) Almada

Panfleto Social de José de Almada Negreiros

Eh comunistas! Eh fascistas!
Eu sei, eu sei:
«Não há esconderijo senão nas massas»!

Assim mesmo necessitais de inimigos.

Chamais construir: eliminar inimigos.

Volto à leviandade
a essa acrobata mágica
que realiza como a imaginação

volto ao meu poder
à minha colaboração terrena
volto às gaffes

ponho outra vez os meu olhos
inconvenientes como o amor

e tiro aliviado os óculos sociais
graduados de conveniência
e com os aros oficiais.

Desisto do escritor
prefiro o protagonista do livro do autor
fujo de casa e escondo-me na rua
fujo do nome e mais do renome

não há esconderijo senão nas massas.

A Arte só vale quando todos forem artistas
e não só os privilegiados
esses que responderam à chamada.

Morro farto de procurar semelhantes
só vejo chefes e secretários
mestres e discípulos
filhos e pais
secundários e principais
amos e servidores
criados e patrões
todos iguais.

Mais uma geração a cantar construção.
Conto quatro:
um, dois, três, quatro
Todos por bem.

Eu sei, eu sei:

«não há esconderijo senão nas massas!

Os ricos que paguem!

Os pobres que morram!

não seremos pobres nem ricos
todos iguais
iguais como os semelhantes

custa muito todos semelhantes

dá no mesmo todos iguais.»

Achei altas montanhas fora da geografia
longe da perseguição
mas o meu corpo vulnerável não passa
por onde me passa a alma.

in Poemas, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001

Sem comentários: