O mundo nunca foi um lugar seguro. Nem para os seres humanos nem para a restante bicharada. O facto de nascermos defeituosos e condenados a uma morte certa terá muito a ver com essa sensação de insegurança permanente que nos torna desconfiados e nos leva a cometer frequentes actos um pouco desesperados.
A crueldade espreita a cada curva dos nossos cérebros. Inventamos torturas variadas. Há-as físicas ou psicológicas, desenvolvemos com volúpia narrativas aterrorizadoras para nos distraírem da monotonia que eventualmente nos venha amodorrar a existência. Nada nos satisfaz, forçamos constantemente os limites da imaginação.
Nos decénios mais recentes desenvolvemos dispositivos capazes de acabar com tudo o que nos rodeia de forma avassaladora e quase imediata. Trouxemos o armagedão das narrativas bíblicas para este nosso quotidiano delirante. Até ao momento em que escrevo estas linhas estamos a dar-nos mais ou menos bem com isso.