domingo, novembro 30, 2025

Ubu, és tu?

    


    Ontem aconteceu o lançamento da minha versão de Rei Ubu, a obra-prima de Alfred Jarry, esse escritor tonto como uma barata. O facto de ter tido o trabalho de transformar a obra de Jarry em algo parecido com aquilo que ontem foi posto à venda, faz de mim quase tão tonto como Jarry, talvez um pouco menos pois até os tontos podem aprender qualquer coisa com o exemplo alheio. Diz-me os tontos que admiras, dir-te-ei que tonto és.

    A coisa deu-se no Salão das Carochas, ali em cima, em Almada Velha. O Zé Xavier Ezequiel, na sua qualidade de editor, apresentou a cena, o segundo livro editado pela Tordesilhas, uma editora ainda bebé. A sala estava bem composta e tive oportunidade de debitar umas quantas falsas banalidades. A Ana Nave também falou um bocadinho e depois a Josefina Correia e o Carlos Dias Antunes leram a primeira cena de Rei Ubu, as partes das personagens que eles próprios haviam interpretado em 2017, aquando da apresentação desta coisa em palco: a Josefina como Mãe Ubu, o Carlos como Pai/Rei Ubu.

    No fim assinei uns quantos exemplares, que o Ezequiel vendeu a quem os quis comprar, com uma caneta que a Ana Saltão me emprestou. Eu, que ando sempre com, pelo menos, uma caneta no bolso, esqueci-me de a(s) transportar comigo logo ontem, logo naquele dia. Tivemos ainda a possibilidade de beber umas garrafas de vinho e tasquinhar umas coisas secas (bem agradáveis). Enfim, foi uma espécie de festa. Até o meu irmão apareceu! 

sábado, novembro 29, 2025

Diferentes aspectos

     Olhava a mulher sentada de soslaio ou olhava de soslaio a mulher sentada? Não me recordo muito bem mas o seu aspecto não me deixou indiferente. Parecia ser um homem que se foi esquecendo da saudade a vida inteira e nem para tio ficou por não ter ninguém que se lembre dele, que saiba quem ele é, por não ter ninguém que o reconheça. O olhar dele não era amigável nem curioso nem desinteressado, apenas inquietante. Mais à frente uma rapariga com uma mala enorme estacionada ao seu lado auto-fotografava-se fazendo uma boquinha que dava ao seu rosto o aspecto de um rabo anguloso com um olho do cu protuberante.

domingo, novembro 23, 2025

Ser tolo não é fácil

     O Mundo é tão variado, há pessoas tão estranhas, tão extraordinárias, tão... tão... tão... pessoas! Oh, como poderei alguma vez dormir descansado sabendo as coisas espectaculares que vou perder de cada vez que fecho os olhos e desligo para aquela espécie de suspensão da vida, para o sono... para o sonho! Ah, o sonho. O Sonho! O sonho: fácil é sonhar todas as noites, difícil é lutar por um sonho. Forte. O sonho representa a realização de um desejo. Chiça. É preciso força para sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê. Ora toma! 

    Agora estou indeciso: devo dormir (e sonhar) ou ficar acordado (e ver o mundo)? Seja qual for a minha decisão estarei sempre disponível para a maravilha. A dormir ou acordado, prometo ser um guerreiro da Alma, um paladino do Coração! Ah, o Mundo, ah, o Sonho, ah, o caraças!

sábado, novembro 22, 2025

Ter ou não ter

     Tenho opinião! Sim, essa questão não me é completamente estranha e, pensando um bocadinho, tenho opinião. Talvez não seja a mais informada ou a mais avisada mas é uma opinião sincera, na minha cabeça é uma verdade verdadeira. Juro...

    "Quem mais jura é quem mais mente" diz o dito. Teremos de considerar isto como sendo produto de algum tipo de pensamento merecedor de crédito? Talvez não, talvez não seja coisa para levar a sério. Não sei bem, não tenho opinião. Nem quero saber. Quero que se lixe!

quinta-feira, novembro 20, 2025

Rotina matinal

     

    Estou a fazer uma pintura. Começou por ser uma imagem única à qual resolvi acrescentar outras duas, laterais, com as mesmas dimensões da primeira: 100X70cm. O título, "My Sweet Lord". No "painel" central há uma luz que irradia do  alto, sugerindo uma forma cónica ou triangular, luz essa que anuncia actividade divina que se desenrola fora do campo de visão do observador. O que se passa ali, no alto? Não sei, não estou a ver.

    Todas as manhãs olho e observo a pintura durante, pelo menos, meia hora. Tenho uma passadeira com um ângulo de visão aproximado ao desta foto e caminho uns quantos quilómetros a olhar o, agora, tríptico. Surpreendo-me sempre que exerço esta actividade, surpreende-me a forma como o tempo se expande enquanto caminho, olho e sonho. Passo tempo de qualidade comigo próprio.

    Estas caminhadas contemplativas têm qualidades transformadoras que não consigo explicar (nem carecem de explicação), basta-me usufruir da coisa. Todas as manhãs. O dia que segue corre bem.

domingo, novembro 16, 2025

Lutas, jogos e esquinas

     Uma das coisas que gosto de fazer é deixar comentários nas caixas do jornal Público online. A maior parte das vezes fico com a sensação de quem ninguém leu ou, pelo menos, deu atenção ao que opinei. Deixar aqueles comentários é como tegar paredes ou mijar nas esquinas à maneira de cães e gatos. E eu opino, eu cago, eu mijo. Porque posso. 

    Deixo aqui alguns desses comentários. Descontextualizados ganham dimensões porventura inesperadas:

    O texto sintetiza o problema com clareza. Temo que a luta entre os educadores e as máquinas esteja a ser perdida pelos seres humanos. Em breve assistiremos aos resultados dessa luta. 

    Ora aqui está um belo motivo de reflexão para aqueles que andam para aí a ronronar que não faz sentido falar em luta de classes. Faz lá agora! Isso de renomear os trabalhadores como "colaboradores" é uma das coisas mais patéticas que o capitalismo já ensaiou mas que vai fazendo o seu caminho sem problemas de maior nos meios de comunicação social que, como todos sabemos, estão ao serviço da esquerda. 

    Estranha situação em que todos parecem querer atingir o mesmo fim e nada de concreto acontece. No meio desta teia complicada alguém está a falhar ou a querer falhar. 

    Pronto, não é preciso ficarmos assim, foi só um jogo de futebol. Roí a unha do indicador direito à espera que o Félix fosse lavar o cabelo, não estava era a contar que o senhor do côco perdesse as estribeiras. Apesar de tudo, um gajo está sempre à espera de um rasgo individual de um golito, de um milagre, qualquer coisa só que hoje... nada. Nadinha. Népias. É assim mesmo. Amanhã estará tudo bem outra vez.

    E por aí abaixo, como uma cascata a bater nas rochas com vontade de as transformar em seixos, em areia, em nada. 

quinta-feira, novembro 13, 2025

Sonhar

     Sonho. Sonho com o passado, imagino futuros, o presente esgueira-se, desliza como uma enguia... talvez mais como moreia ou tubarão martelo. Foge-me com uma facilidade aterradora mas não me tira o sono; e eu sonho. Sempre que acordo sei que sonhei mas não consigo recordar nada, não recordo nadinha. Népias. São assim os meus sonhos: recordações absolutamente vazias, coisas que sei que aconteceram mas que não faço a mínima ideia de qual foi o seu aspecto. Não é doença mas também, sempre te digo, não contribui grandemente para melhorar a minha saúde. No entanto eu sonho.