Decerto te terá também acontecido: tiveste uma ideia luminosa, uma revelação fulgurante, o mundo ganhou um contorno mais nítido, viveste um momento de fugacíssima felicidade. Tens a sensação de teres encontrado um pequeno tesouro escondido dentro de ti. Descobriste um fragmento da Verdade, foste tu quem o descobriu!
Iupi!
A sensação da descoberta de algo especial faz com que te sintas igualmente raro. Por momentos és um esteta, és um profeta, um cientista da alma. Mais adiante ouves uma frase, lês um parágrafo num livro de páginas amarelentas, lembras-te de algo que há muito havias esquecido e percebes. Percebes que a tal ideia, o tal tesouro, haviam já sido encontrados ou intuídos por alguém antes de ti. Ó tristeza, ó decepção!
A mim já isto aconteceu muito mais que várias vezes. Afinal sou um gajo como os outros, não posso considerar-me particularmente brilhante por ter descoberto o que outros já haviam encontrado, observado e dissecado antes de mim. Isso não faz de mim uma fraude, apenas uma pessoa iludida. Mas se tudo for apenas ilusão serei pouco mais do que alguém perfeitamente integrado no nada que tudo abarca.
Não tenho a certeza de ter chegado a uma conclusão, nem sei se isso terá alguma utilidade (a incerteza ou a conclusão). O melhor é beber uma bujeca. Ou não.
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