Em geometria aprendi (ou será que ensinei?) que "um ponto é um lugar geométrico". Ou seja, um ponto não é um toque rápido do lápis ou da caneta sobre uma folha de papel, um ponto não é uma bolinha, um ponto é, na verdade, uma abstracção. Abstracção essa que nos é indicada por um conjunto de coordenadas (abcissa, cota e afastamento, no caso da Geometria Descritiva).
Mais tarde li a frase genial de Paul Klee dizendo que "uma linha é um ponto que foi passear", etc., por aí fora, o mundo vai-se-me revelando num compromisso entre linguagem e poder de visualização. A capacidade de verbalização a ser capaz de gerar imagens e intuições poéticas que disparam em todas as direcções dentro da minha cabeça e se projectam no espaço através dos meus olhos. O corpo ainda e sempre um empecilho que ambiciono dominar na tentativa de traduzir em objectos palpáveis aquilo que me vai na alma.
Hoje pensei que o tempo é também um lugar no espaço, não exactamente como o ponto, mas com um tipo coordenadas completamente diferente, tipo esse que não consigo precisar, nem um pouco mais ou menos. Isto a propósito do conceito de tempo na criação artística e da sua influência decisiva naquilo que os artistas criam. As coordenadas do tempo a determinarem o aspecto do objecto artístico de um modo eventualmente semelhante ao que as coordenadas de um ponto podem significar na determinação da orientação de um recta no espaço.
Há intuições nas quais acreditamos piamente ainda que sejamos absolutamente incapazes de provar a sua validade.
Sem comentários:
Enviar um comentário