Corria o primeiro dia do ano e ele compreendeu. Compreendeu que a Humanidade continuava a pagar o Pecado Original. Que a História mais não era que nova versão da uma velha narrativa: ascensão e queda, como na narrativa de Lúcifer ou na de Ícaro. Compreendeu que, mais uma vez, caminhávamos em bloco na direcção do abismo. Como sonâmbulos, pior! Como zombies!!!
Compreendeu que a vingança de Deus não terá nunca o seu epílogo. Que infinita é a vingança de Deus e não o Universo. Compreendeu que, uma vez extinta a nossa civilização, uma outra começará a emergir, lentamente, dos escombros. Uma civilização amnésica, como é a nossa, que haverá de repetir todos os erros, todas as maldades, todas as coisas estúpidas que estão hoje a levar-nos no caminho da desgraça.
Sentiu um frio inexplicável. Sentou-se e pretendeu falar, explicar a todos os que se cruzavam com ele aquilo que havia compreendido. Sentiu-se esquisito. Compreendeu o papel dos Profetas. Resolveu ficar calado. Não aspirava à tolice, muito menos ao martírio. Resolveu ficar calado.
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