Deu por si estava sozinho, mais só que um perú bêbado na véspera de Natal. Acreditara que fazia parte de um todo, que havia mais gente como ele, que tudo haveria de acabar bem. Mas não. Percebia agora que vivera uma ilusão, que as pessoas boas não eram de fiar, que as más eram ainda piores do que ousara imaginar. Ele era o último, o único, o mais puro de todos os homens; mulheres incluídas.
Virou outra página mas não lia o livro pousado sobre a mesa. Passeava os olhos pelas palavras sem as perceber, sem tentar sequer receber-lhes o sentido. A sua mente divagava, perdido que estava naquele mundo agreste que, decididamente, não o merecia. Nem vice-versa. Num assomo de virilidade encheu mais um copo de vinho tinto e forte bebendo-o num trago vigoroso. Os olhos lacrimejaram, o cérebro desencaixou-se um pouco mais e levantou-se.
Deu um passo em frente sentindo o vazio imenso de um precipício que o fez perder a noção do espaço e o equilíbrio. Caiu de borco. Ali ficou. O mundo não o merecia, nem vice nem versa.
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