Terá dito
Picasso que a “a arte é uma mentira que nos ajuda a compreender a verdade”; li
algures que esta frase célebre terá sido rematada com a afirmação: “na medida
em que formos capazes de a compreender”. Vem isto a propósito da questiúncula
levantada em torno de “A Linha do Mar”, obra de arte pública da autoria de
Pedro Cabrita Reis, levantada do chão em Leça da Palmeira.
Colocam-se duas
reflexões interessantes: por um lado a distância entre mito e realidade na imagem
do artista; por outro o processo de validação do objecto artístico e
consequente valor monetário, temas apaixonantes se bem que dificilmente
resolúveis.
Subitamente há uma multidão que, apesar de não ligar patavina ao
mundo das artes, tem opinião sobre o supostamente exagerado valor do objecto (250 mil euros
mais IVA no caso vertente) embora não proponha um valor alternativo.
Nota-se
também algum cepticismo relativamente à competência artística do criador da
obra, um dos nomes maiores da arte contemporânea portuguesa.
Quando a questão
gravita em torno de dinheiro todos têm uma opinião imediata que poderá
basear-se, por comparação e, por exemplo, no preço do quilo de batatas ou no
valor da grama de ouro (questão magistralmente exposta por Piero Manzoni na sua
obra-prima de 1961 intitulada “Merda de Artista”).
Voltando à citação de
Picasso, à falta de melhor expressão que materialize a perplexidade provocada
por tão complexa situação, sobra a palavra “vergonha”, que se vem tornando arma
de arremesso dos néscios quando tentam expressar o espanto estupidificante que
lhes é provocado pelo mundo que habitam.
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