terça-feira, janeiro 08, 2019

Tecnologia de estimação

O meu telemóvel não é dos mais faladores, por vezes passa dias inteiros que está calado. Como um rato. Mas isso não impede que me sinta ligeiramente angustiado caso me esqueça dele poisado algures, entregue à suavíssima queda do pó que encobre o mundo.

Estranha relação esta, que estabelecemos com certos objectos tecnológicos. É quase como se fossem bichos, animais de estimação. Como se tivessem caprichos, sonhos, necessidades. Como se respirassem o mesmo ar que respiramos.

No outro dia resolvi deixar o telemóvel em casa de forma premeditada. Só para ver como seria. Foi bom. A verdade é que me senti muito mais leve. Não me roeu aquela sensação de culpa pois desta feita não me esquecera dele. Também me sossegou saber que não estava a abandoná-lo, que iria voltar a casa e ele lá estaria, fiel, à minha espera. Enfim, umas horas de liberdade sabem bem.

Certos objectos tecnológicos têm uma irritante capacidade de nos tiranizarem o dia, como se fossem animais de estimação que estragámos com demasiado mimo. Nada que uma martelada não resolva.

Sem comentários: