sábado, janeiro 26, 2019

Consumição

Não sei bem quando foi que aconteceu, quando foi que os electrodomésticos deixaram de ter arranjo para passarem a ter garantia? Quem diz electrodomésticos diz automóveis ou esse objecto-fetiche, tão recente, o smartphone (os inglesismos têm vindo a ser substituídos pelas expressões em inglês puro e duro).

A garantia é, por norma, de dois anos. Terminado esse período de tempo (tão curto!) nada nos garante que o objecto continue a funcionar de acordo com as características excepcionais que nos levaram a adquiri-lo. Diz-se por aí que os objectos já são fabricados de acordo com o tempo de vida mais curto, que os dois anos são uma espécie de velhice tecnológica, tão rápida é a evolução destas espécies. Talvez seja boato.

A verdade é que, nos tempos que correm, quando um objecto deixa de funcionar parece lógico depositá-lo num daqueles caixotes enormes que aparecem nos estacionamentos dos centros comerciais devidamente identificados para o efeito. Depois subimos nas escadas rolantes e vamos à loja comprar outro. É a lógica consumista.

Esta discreta alteração dos nossos hábitos trouxe consigo outra transformação insidiosa: a do cidadão que se torna consumidor. Os direitos de cidadania a serem substituídos pelos direitos do consumo. A vida a ser consumida mais do que a ser vivida?


5 comentários:

Clipping Path disse...

Nice post.Keep sharing. Thanks

Maria Santos disse...

Oi Rui Silvares. Vim apenas reconhecer o terreno, eu que teci considerações no facebook e empreguei o nome "Rui" referindo-o: Isto em resposta a uma crónica do Eduardo Lunardelli com este título "consumição"...brinquei com a duplicidade do termo e aqui estou a pedir-lhe que se me ler o faça complacente e me perdoe algum dislate. Eternamente grata, Maria de Fátima

Anónimo disse...

Maria de Fátima, o Rui é nosso parceiro no "Um novo caso" e "Manjar Branco", e além disso um cavalheiro, jamais deixaria de ser "complacente". Espero que eu não tenha entendido mal o uso do "consumição".

Silvares disse...

Caros amigos, estamos perante um exemplo belíssimo da riqueza da língua portuguesa, que nos une.

David Millar disse...

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