quinta-feira, fevereiro 01, 2018

Desvario

Anda por aí muito bicho estranho disfarçado de ser humano. À primeira vista não parecem muito avariados, podem até parecer coisinhas fofas a precisarem de quem lhes dê um niquinho de atenção. Pobres bichitos, pensas tu, carinhoso leitor. Mas tem cuidado quando lhes estenderes a mão para uma carícia desinteressada, eis que te mordem com os dentes todos, como se fossem piranhas.

Não é o facto de ficares com um ou dois dedos a menos que te irá demover de fazeres o que imaginas ser bom. O bicho precisa de amigos, que raio! E voltas a tentar passar-lhe a mão (o que te resta dela) no pêlo. Qual quê! És de novo posto à prova com outro festival de dentadas que nada têm de gulosas, são apenas maldosas.

Neste ponto já te estás a lixar para o bicho. O que era fôfo, vês agora, é nojento; o que parecia carência é afinal desvario. Desvario total, absoluto, absurdo. O bicho precisa é de ser mantido à distância. E ele ladra, ele gane, ele solta os mais estranhos grunhidos. Já não sabes se é porco, se é vaca, se é outra merda qualquer. Queres esquecê-lo, ignorar que te levou os dedos.

Mas esse bicho estranho agora não te larga. Cometeste o erro supremo de teres olhado para ele, de teres confundido a sua loucura com mera necessidade de atenção. A demência virulenta que o anima parece-te inesgotável. Apercebes-te que esse animal vive no inferno. Ainda consegues sentir uma réstia de empatia com aquela coisa, um sentimento confuso que mistura compaixão e repulsa mas já não queres saber.

O bicho que se lixe! Vai-te esconder no teu buraco fedorento, bicho tonto.

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