terça-feira, julho 07, 2015

Uns pós de Democracia

Jean-Claude Juncker veio lembrar que a Zona Euro é composta pela democracia grega e outras 18 democracias. Uma espécie de 18+1=19 que permitiu ao presidente da Comissão Europeia fazer pedagogia sobre os problemas económicos que afligem tanta gente por essa Europa fora. Afirmou ainda que acredita na possibilidade de se encontrar uma solução na casa da democracia europeia, em Estrasburgo.

Decerto que, quando estabeleceu acordos secretos com 40 multinacionais, oferecendo-lhes acordos fiscais extraordinários, lixando bem lixados os restantes parceiros europeus, este nosso guardião não reuniu na casa da democracia. Quanto dinheiro das dívidas soberanas andará por aí espalhado em negociatas deste calibre ou arrecadado em off-shores manhosos? O que lucraram os povos de Portugal, da Grécia ou da Irlanda com o endividamento brutal das suas economias?

Olho para aquelas reuniões de ministros na casa da democracia, acompanhados dos seus assessores, conduzidos pelos seus motoristas, alojados em belos hotéis, a manjar em restaurantes de luxo … como podem ser estes gajos a reflectir sobre a melhor forma de acudir aos que têm fome? Temo que estejam mais preocupados em alimentar aquela corte faustosa do que em pensar como se resolvem os problemas dos pobrezinhos.

Dizem-nos que andámos a viver acima das nossas possibilidades e, por isso, contraímos uma dívida que levaremos décadas a pagar. As operações financeiras são tão complexas, tão difíceis de compreender, que a maioria das pessoas não percebe nada. Pagamos mais impostos, trabalhamos mais e temos piores hospitais, piores escolas, piores serviços e os desequilíbrios sociais acentuam-se a olhos vistos. Uma parte considerável do produto do nosso trabalho esvai-se no pagamento da dívida e reverte a favor de quê? A favor de quem? Em que é aplicado o dinheirinho que andamos a pagar tão religiosamente?

Aqui há uns anos atrás falou-se de pós-democracia, um sistema político em que a democracia representativa fica cativa de elites não sujeitas a sufrágio que se representam exclusivamente a si próprias. Depois, a discussão sobre esse admirável mundo novo que andaria a ser construído à nossa volta, esmoreceu e caiu no esquecimento. Olha-se para a paisagem actual da União Europeia e… se não é exactamente isto que se está a passar, não sei o que seja, caraças!


Jean-Claude Juncker deveria ter a hombridade de admitir que Estrasburgo é a casa da pós-democracia europeia. Podemos ser pelintras mas não somos burros!

4 comentários:

João Menéres disse...

Apreciei imenso esta sua análise, Rui !

Já agora, sabe qual foi o país que exigiu uma pancada de milhões de Euros para Portugal aceder ao dito ?

Um abraço.

Silvares disse...

Terá sido o Luxemburgo? Sinceramente não sei...

João Menéres disse...

Foi a Grécia !

Silvares disse...

Ah, o que vale é que na política temos amigos em todos os quadrantes.