quinta-feira, janeiro 30, 2014

Momento introspectivo


Ensinar a desenhar é uma coisa divertida. É como fazer uma viagem com a diferença de que, no mundo real, quando viajamos para algum lugar, esse lugar, em princípio, existe e está lá, à nossa espera. No mundo do ensino do Desenho, o lugar para onde vamos ainda não existe; imaginamos que vá existindo, à medida que avançamos.

Um dos maiores desafios para não nos perdermos na floresta (por onde sempre temos de meter quando vamos em frente na aprendizagem das coisas do Desenho) é sermos capazes de verbalizar o que nos corre pela cabeça ao tentar explicar qualquer coisa ao jovem aluno. É como se fossemos construindo a estrada à medida que a vamos pisando.

Descobrir palavras capazes de dizer coisas que (ainda) não existem e que, mesmo depois de ditas, podem continuar a não significar nada que se compreenda, exige, mais do que imaginação, alguma inconsciência.

Sim, para ensinar Desenho não podemos ser completamente sãos da cabeça (pelo menos no sentido em que normalmente se aponta a sanidade mental característica de uma sociedade economicista que é o sermos pouco mais que um calhau com laivos de Humanidade) recomenda-se até uma certa dose de infantilidade e uma dose razoável de erudição visual.

Isso é fundamental porque, quando nos faltam as palavras e aquelas que inventamos se parecem demasiado com coisas banais, há sempre a possibilidade de recorrer a uma referência visual adequada à situação. E, com um computador por perto, o Santo Google fornece-nos todas as imagens com a velocidade instantânea de um dinossauro raptor.

Quando dou aulas de Desenho sinto-me frequentemente fora do tempo. Imagino que seja isto a Fonte da Juventude.

3 comentários:

Anónimo disse...

MARAVILHA de texto. Um hino aos que ensinam arte.

Silvares disse...

Grato pelo seu comentário. Ensinar pode ser uma actividade muito gratificante!
:-)

Jorge Pinheiro disse...

É muito bom gostar da nossa profissão. Uma coisa muito rara hoje em dia...