Ficar na sombra não é das coisas mais fáceis a que um gajo possa aspirar. A tentação de deitar um cornicho de fora é muito forte. Querer banhar a fronte na luz do sol, mostrar o sorriso, explicar a quem esteja a ouvir como somos gajos espectaculares, a compulsão da exposição social fala alto. Mas não tão alto que abafe a tendência natural para a anulação do ego. Quando esta existe.
Uma educação católica em meio rural cava profundas valas onde semeamos modéstia com uma eficácia tal que a colheita dura a vida toda. E tentamos mudar, tentamos deixar a agricultura, imaginar outras actividades, mas nada funciona. Campónio uma vez, campónio a vida toda. Nunca deixarei de ser um campónio. Tempos houve em que a constatação dessa evidência me incomodou. Nos tempos que correm a condição de eterno campónio enche-me de orgulho. Vai na volta esse orgulho não é mais que auto-defesa. É bem possível que assim seja.
A passagem do tempo fornece a cada um de nós a possibilidade de vestir uma armadura mais ou menos eficaz contra os temores que o mundo vai sendo capaz de nos infundir. O mundo que se infunda! Que se infunda esta merda toda. Vou cavar um buraquinho onde possa aninhar-me confortavelmente, como imaginei a toca da raposa Salta Pocinhas, heroína imbatível da minha mais tenra infância. E nesse buraquinho serei feliz, até ao esquecimento absoluto.
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