segunda-feira, novembro 14, 2022

O ponto não está à janela

Notas introdutórias à minha intervenção na conversa/debate "O ponto não está à janela" a realizar no próximo dia 16 deste mês e deste ano

 

Vou basear o meu discurso em algumas coisas nas quais acredito mas que não tenho como provar. Serão ideias discutíveis e talvez, por isso mesmo, possamos trocar umas ideias sobre o assunto.

Vou partir do princípio de que toda a representação simbólica do mundo que nos rodeia tem, na sua génese, um impulso mágico que é, como quem diz, um impulso poético.

Estou convencido que o impulso que origina o discurso poético é diverso do que origina o pensamento científico, embora possam existir momentos em que estes discursos, aparentemente antagónicos, se aproximam e se completam.

Afinal de contas, poesia e ciência, magia e matemática, teatro e astrofísica, são formas de representação do mundo, tentativas de nos aproximar um pouco mais dos mistérios da existência humana. Mistérios esses que, no limite, podem nem sequer existir (ou podem ser representados como na simbologia de Almada Negreiros, 1+1=1).

Acredito que a criação da representação simbólica é muito semelhante às brincadeiras de criança, quando sentimos o impulso incontrolável de tentamos encontrar uma narrativa que faça sentido e a moldamos de acordo com os nossos anseios.

Os adultos informam-nos de que existe uma grande distância entre “real” e “imaginário” e que a “realidade” tem um valor muito superior ao “faz-de-contas” mas não nos convencem. Só deixamos de acreditar no mundo que inventamos quando entramos definitivamente no universo dos adultos e corremos o risco de nos perdermos para sempre.

Quando somos crianças imaginamos a vida como um teatro contínuo. E é assim que eu imagino o teatro: a representação incessante da infância inultrapassável e infinita que é a principal e única característica do Ser Humano.

(claro que continua!)

 

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