quinta-feira, abril 12, 2018

Continuum fadista

Porque será tão difícil aceitar as coisas como elas parecem ser? Porque temos sempre de procurar algo que não deveria estar ali e, apesar de não existir, somos sempre capazes de encontrar essa coisa imaginária para comprovar a nossa razão, a nossa inultrapassável capacidade de compreender e ver tudo o que vem de dentro das nossas cabeças como se fosse absoluto? É como se o Mundo fosse criado por nós.

A nossa capacidade para  iludirmos o espelho é realização de fazer corar um camaleão.

A coisa vem de longe (nasce connosco?) mas agudiza-se quando somos adolescentes (quando deixamos de o ser?) e, temo bem, sobreviverá tanto à desaparição quanto ao esquecimento da espécie humana.

Nós morremos a nossa vaidade fica.

Lidar diariamente com grupos de adolescentes declarados é como estar perante um espelho que oferece o passado aos nossos olhos. São tantas as ocasiões em que me passo e repreendo algum deles para, imediatamente, ter a sensação de estar a repreender um outro eu, difuso, perdido no tempo, eu no passado!

Não consigo ver esse outro eu, pressinto-o mas já esqueci como ele era (como ele é?). Os contornos do rosto, a definição da silhueta, terei saudades do que fui? Não creio. Acredito que continuo a ser, não há que ser saudosista. A vida é um continuum até ao dia em se transforma em morte.

Há uma frase feita que nos permite declarar ter saudades do futuro. Treta? Sinceramente: é rara a ocasião em que sinto saudades. Talvez tenha de ouvir mais Fado para me aproximar do nível médio saudosista do português corrente. Talvez...

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