sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Confessionário

Por vezes sinto-me como se tivesse sido talhado em madeira. Uma coisa entre o Pinóquio e algum santo de pau carunchoso pintado à mão mas com a tinta já meio comida e a cair. Sinto-me pasto de caruncho gordo.

São tantas as dúvidas que não deixam espaço nenhum às certezas. Fico meio abananado, a tremelicar no alto da minha soberba, tenho medo de cair... e caio. Como num sonho, sou sugado por aquela queda infinita sem saber o que está no fundo ou, sequer, se existe fundo.

Talvez isto seja um reflexo da minha educação católica: o receio de ser mau, a ânsia de praticar a bondade. Seja lá o que for é algo que me faz fugir para a frente de quem sou, algo que me faz desejar o futuro; talvez no futuro haja redenção!

Limpo os óculos, volto a encavalitá-los na cana do nariz. As letras no écran ganham de novo nitidez suficiente para que possa compreender o que estou a escrever. Compreender!? Mentira, posso ler as frases anteriores, mas compreendê-las.... isso fica para uma outra vida.

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