sexta-feira, maio 20, 2016

Zombie King

Cada povo tem o bandido que merece e cada bandido encontra o lugar que lhe compete no meio do povo a que pertence. Alguns bandidos acabam por ser amados outros impõem-se pelo temor que inspiram. Há mesmo aqueles que nunca chegam a ser identificados como tal; são os maiores de todos os bandidos.

Quando um bandido se torna demasiado mau e se transforma em monstro é hora de deitar as mãos à cabeça. Muitos bandidos são tolerados, apaparicados, levados em ombros pelo povo que finge não perceber a profundidade das burlas, dos logros e dos pequenos roubos com que o bandido vai marcando o seu percurso social.

Bem vestidos, bem lavados e perfumados, penteadinhos como se estivessem constantemente à porta de casa da tia, prontos para o chá das cinco antes de irem tratar de uns assuntos muito importantes, os bandidos podem ser ou não ser muito perigosos. É como no Hamlet.

O problema é conseguirmos perceber o que é que define um bandido, onde é traçada e quem traça a fronteira da bandidice? Entre nós, cá em Portugal, não nos temos preocupado muito com esta questão e acarinhamos indefinidamente os nossos bandidos e, até, mesmo alguns grandes filhos da puta. É como se eles fossem aquilo que gostaríamos de ser mas que não temos coragem para assumir a não ser defronte ao espelho.

Seremos um povo de bandidos? Talvez sejamos e talvez isso seja motivo de esperança.

Cada povo de bandidos tem o herói que merece e cada herói encontra o lugar que lhe compete no meio do povo a que pertence? Continuamos à espera de Dom Sebastião que, caso regresse na tal manhã de nevoeiro, será já pouco mais que um zombie.

2 comentários:

João Menéres disse...

Apreciei muito o texto, Rui !

Um abraço.

Silvares disse...

Fico contente com as suas palavras.