quarta-feira, maio 13, 2015

Goo goo muck

Enfiar os Cramps pelos ouvidos dentro ajuda bastante a fazer o percurso através dos túneis do Metro de Lisboa.

Sinto-me glóbulo vermelho, leucócito. Levado num fluxo, sou sanguíneo ou então serei água a fugir num esgoto. Sinto-me uma merda qualquer. Uma coisa que puxa e que é puxada, coisa que leva tudo à frente, a correr, a correr dentro de um tubo, a correr desvairada. Sinto-me goo goo muck.

Agora tenho um interior luxuoso: aveludadas tripas, alma acetinada e um olhar carmim a deitar sobre o mundo esta estranha luz que banha o túnel onde vou dançando os meus passos. Por momentos viajo no tempo, regresso à adolescência.

Entro no comboio e vou à boleia no ventre de um fantasma, avanço ao ritmo dos seus movimentos peristálticos. Chegado à última estação sou cagado na plataforma. Regresso ao mundo do costume.

Tiro os auscultadores. Já não me sinto tão goo goo muck mas há sempre qualquer coisinha que fica.



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